terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Triste notícia

Não tenho muito a falar... Mas o boom editorial de revistas de gênero gay no Brasil não consolidou esse mercado. Vejam o que André Fisher - diretor do Mix Brasil e da revista JUNIOR - escreveu, mesmo não concordando com ele em alguns aspectos. Sinto apenas pesar.

O estouro da bolha gay


Finda a maratona do Festival MixBrasil em São Paulo, tempo de retomar a vida em seu tempo normal. Evento foi um sucesso, cada vez maior e mais profissional. Vi filmes que me tocaram profundamente, mas sobre eles falo depois.

Passei algumas horas com Bruce Labruce conversando sobre os estouros da várias bolhas que a atual über crise financeira detonou. Ele se referia especialmente à bolha das artes, que fez os leilões e galerias transacionarem valores estrondosos de artistas contemporâneos nos últimos anos e cujo valor caiu pela metade, ou mais, nas últimas semanas.
A matéria que saiu na Ilustrada sobre o assunto dois dias mencionava que no caso de arte latinoamericana as perdas não foram substanciais pelo fato de não haver uma bolha nesta área.

As bolhas são criadas pelo aumento vertiginoso de valor de algo em função de expectativas baseadas em algo sem lastro na realidade. Quando o mercado acorda e se dá conta, a bolha estoura. Foi assim com as empresas de internet em 2002. Está sendo assim agora com os imóveis nos EUA, o preço do petróleo, a cotação do real, as ações na bolsa.

E também com o tal mercado editorial gay. No último ano dei dezenas de entrevistas sobre o chamado boom desse mercado, que nada mais era do que a publicação de três títulos distribuídos nacionalmente em banca direcionados ao público masculino gay sem conteúdo erótico. Com o fechamento da Dom anunciado pela editora Peixes, posso falar um pouco mais sobre o tema sem incorrer no risco de ser deselegante falar da concorrência.

Em primeiro lugar é evidente que não há mercado no Brasil para tanto. Se na França e na Alemanha, onde há comunidades gays maiores e mais ricas, apenas duas revistas disputam esse segmento, porque aqui haveríamos de ter três?

Foi uma iniciativa um tanto ingênua – e também de uma certa arrogância – acreditar que o mercado publicitário e a lógica editorial iriam mudar. Ninguém de verdade acredita que existam 18 milhões de gays no Brasil. Pode haver até mais homossexuais ou bissexuais, mas gente que consuma gay, que compre revista gay...esse número é bem, bem menor. Trabalhando há 15 anos nesse mercado já deu para entender qual nosso tamanho e limitações.
Em nenhum lugar do mundo há editoras não-gays fazendo revistas gays, pelo simples fato de que é preciso inserir os fatores militância e tesão (de fazer uma revista gay) para essa conta fechar. Tiragem de 50 mil, pagar valores acima do mercado a modelos, contratar uma equipe de revista grande, tudo isso mensalmente... difícil imaginar quem continuaria cobrindo o vermelho por tanto tempo. Ele não resistiu a um CEO novo, preocupado só com a contabilidade da empresa.

A Dom era bastante profissional, mas se levava a sério demais, ao acreditar na existência da fina que compra carrões, tem vergonha de ver homem sem camisa e que não fala bobagem- a edição que está na banca chega ao ponto de recomendar, em matéria sobre etiqueta na cama, que não se deve falar palavrão ao fazer sexo!!!

O departamento comercial da Peixes fazia questão de dizer no mercado que a Junior era para teens e a Dom para maduros. Só que pesquisa realizada na UFMG, que será divulgada mês que vem, mostra que o leitor da Junior é mais velho (na média, 33 x 26 anos) e mais abastado que o da Dom.
Eu tenho uma teoria... A Junior é uma revista mais assumida, para quem é melhor resolvido (pelos temas e linguagem) e bem informado – ao contrário da Dom, Aimé e G, a Junior não tem noticiário, pois contamos que quem a lê acessa internet e já teve acesso àquelas notícias de um mês atrás. E ser rasgadamente jovem não é algo que, de forma alguma, exclua homens gays mais velhos. Pelo contrário.

Não acredito que a remanescente dure muito mais tempo.
Pode ser que a Junior também tenha que fechar um dia (pé de pato mangalô três vezes), mas não são esses os sinais que estamos tendo até agora.
Conseguimos fazer uma revista bacana, mas com pé no chão, que cabe na nossa capacidade de investir e que tem objetivos maiores, não apenas comerciais.


2 comentários:

Alex&Elisa disse...

Resolvi fuçar seus blogs...hohoho

Boas matérias aqui...gostei...volto depois.

Mas o que eu mais gostei foi do seu "me me" no post abaixo, tão bunitinho os seus sonhos, principalmente o sétimo...hehehe

Beijos do Alex

Julio Marin disse...

E quem não sonha com isso?! Não é mesmo! Também adoro seu blog.

Olhos atentos